terça-feira, 6 de dezembro de 2011

MENINGITE | Sintomas, Transmissão e Vacina


Por Dr. Pedro Pinheiro  

Meningite é o nome que damos à inflamação da meninge, membrana que recobre o sistema nervoso central. Neste texto vamos explicar o que é a meninge, quais os principais sintomas da meningite, como ela é transmitida e qual o seu tratamento.

O que é a meninge?

Do mesmo jeito que o pulmão é envolvido pela pleura e o coração pelo pericárdio, o sistema nervoso central (cérebro e medula) é envolvido pela meninge.

A meninge é uma membrana que serve como barreira contra agentes infecciosos; é composta por três camadas (acompanhe o texto com a ilustração abaixo. Clique para ampliá-la):
Meninges
- Pia Mater = Uma membrana finíssima que fica colada no cérebro e na medula.
- Aracnóide = É a membrana do meio, transparente e fica entre a pia mater e a dura mater. O liquor ou líquido cefalorraquidiano fica entre a pia mater e a aracnoide.
- Dura Mater = É a membrana mais grossa, opaca e próxima do osso.

Meningite é o nome que se dá à inflamação das meninges, normalmente acometendo a membrana aracnoide e o líquido cefalorraquidiano (liquor). A meningite é causada por agentes infecciosos, como bactérias, fungos ou vírus.

Até o advento dos antibióticos no início do século passado, a meningite tinha uma mortalidade próxima dos 100%. Ainda hoje, com todos os avanços, pelo menos 15-20% dos casos evoluem para óbito. Trata-se, portanto, de uma doença muito séria.

Quais são os tipos de meningite?

A meningite bacteriana é a forma mais grave. Costuma ser causado por bactérias como Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e, principalmente, Neisseria mengitidis, também conhecida como meningococo (leia: DOENÇAS CAUSADAS POR BACTÉRIAS).

Pinça retirando a dura mater e expondo a membrana aracnoide   (clique p/ampliar. Atenção: A imagem acima  pode ser considerada forte para certas pessoas)
 A N.mengitidis, também conhecida como meningococo, é o principal agente em adultos com menos de 60 anos. Com a inclusão da vacina contra o S.pneumoniae e H.influenzae no calendário vacinal de vários países, a ocorrência de meningite por essas duas bactérias vem caindo drasticamente, principalmente entre as crianças. Porém, nos adultos que não foram vacinados, a incidência de meningite por S.pneumoniae ainda é alta.

A meningite também pode ser causada por vírus, normalmente da família dos enterovírus. A meningite viral é menos agressiva que a bacteriana, com taxa de mortalidade bem mais baixa e com resolução espontânea, sem necessidade de tratamento específico.

Mais raramente a meningite pode ser causada por outros vírus e agentes como HIV, herpes simplex, caxumba, herpes zoster (vírus da catapora), sífilis, fungos, protozoários ou tuberculose. Também existe a meningite neoplásica, causada pela invasão da meninge por metástases de cânceres.

Como se pega meningite?

O modo mais comum de se pegar meningite é através do contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas. A meningite não se transmite com tanta facilidade como a gripe, e um contato mais prolongado é necessário para o contágio.

Familiares, colegas de turma, namorados e pessoas que residem no mesmo dormitório são aqueles com maior risco. A meningite é transmitida pela saliva, porém, compartilhar copos e talheres parece não ser um fator de risco grande. É preciso que esse comportamento se repita com frequência para haver um risco elevado. Já a troca de beijos, principalmente se de língua e prolongados, é um via perigosa de transmissão.

Contatos ocasionais como apenas um comprimento, uma pequena conversa, ou dividir o mesmo ambiente como uma sala de aula, oferece pouco risco. Mesmo que durante uma aula você sente ao lado de alguém infectado, se esta exposição for menor do que seis horas, o risco também é baixo.

As bactérias não sobrevivem no ambiente, não sendo necessário isolamento dos locais onde foi registrado algum caso. Fechamento de escolas e salas de aula são desnecessárias e só servem para causar pânico na população.

Não há risco de transmissão de meningite durante velórios. Primeiro porque o falecido não respira e, portanto, não libera bactérias nas secreções respiratórias. Segundo porque em um velório o tempo de exposição é bem menor do que seis horas.

A maioria das pessoas que se contaminam com o meningococo não desenvolvem doença. A bactéria fica na orofaringe durante algum tempo até ser eliminada pelo sistema imune. Apesar de não desenvolver a meningite, as pessoas contaminadas podem transmitir a bactéria para outras. Na verdade, apenas 1% das pessoas que têm o meningococo na saliva adoecem, o resto torna-se apenas transmissores assintomáticos e transitórios da bactéria.

Portanto, já se pode perceber que existe muito sensacionalismo oportunista em relação a meningite. Antes de entrar em pânico porque algum conhecido está com a doença, é preciso lembrar que nem todos os casos são causados por bactérias (os mais graves), que para haver contágio é necessário um contato mais íntimo e que a maioria das pessoas contaminadas não adoece.

A meningite também pode ocorrer como complicação de um infecção das vias aéreas, como sinusites e otites. Traumatismos cranianos com exposição da meninge e usuários de drogas endovenosas também correm risco.

Prevenção da meningite

Todos aqueles que tiveram contato prolongado ou íntimo com um paciente com meningite devem iniciar tratamento profilático com antibióticos nas primeiras 24 horas após a identificação do primeiro caso. Os contactantes devem ficar em observação por 10 dias (não é necessário internamento) e devem procurar atendimento médico ao surgimento de qualquer sintoma.

A profilaxia reduz em 95% a chance de infecção além de eliminar o estado de portador assintomático da bactéria, reduzindo a assim, a cadeia de transmissão.

Sintomas da meningite


A meningite é um quadro grave e agudo. O período de incubação é em média de 3 a 4 dias. A maioria dos pacientes são internados 24 horas após o aparecimento dos primeiros sintomas. O quadro típico é de febre alta, rigidez da nuca, intensa dor de cabeça e prostração. A evolução para sepse é rápida (leia: O QUE É SEPSE E CHOQUE SÉPTICO ?) e quanto mais se posterga o início do tratamento com antibióticos, pior é o prognóstico.

A crise convulsiva também pode ser uma das manifestações inicias da meningite (leia: EPILEPSIA | CRISE CONVULSIVA | Sintomas, tipos e como proceder).

Na meningite pelo meningococo podem ocorrer lesões de pele tipo petéquias, o que às vezes causa confusão com outras infecções como rubéola, sarampo e até dengue.

Conforme a doença se agrava as lesões evoluem como nas fotos abaixo.
 Quando a infecção ultrapassa as meninges e atinge o cérebro, temos o quadro de meningoencefalite podendo ocorrer convulsões, coma e paralisia motora.

O diagnóstico é feito através da punção lombar, onde consegue-se aspirar o liquor para avaliação laboratorial.

Tratamento da meningite

A meningite bacteriana é uma emergência médica e o tratamento com antibióticos intravenosos deve ser iniciado o mais rápido possível, de preferência logo após a realização da punção lombar. A demora de apenas algumas horas pode ter influência no prognóstico. Se há suspeita de meningite, o paciente deve ser encaminhado imediatamente para um setor de emergência.

Na meningite viral, antibióticos não são necessários e muitas vezes o paciente sequer precisa ser internado. O tratamento é apenas com sintomáticos. O quadro só é preocupante em neonatos. Porém, a distinção com a meningite bacteriana não possível de ser feita apenas pelo quadro clínico, sendo a avaliação médica indispensável e urgente. O diagnóstico diferencial costuma ser feito através dos resultados da aspiração do liquor pela punção lombar

Vacina para meningite

Como já explicado, a meningite pode ser causada por mais de um tipo de bactéria, por isso, não existe uma vacina única que previna todos os casos. Todavia, há vacinas individuais contra as principais bactérias. A vacina contra Haemophilus influenzae já faz parte do calendário básico de vacinação. Também já existe vacina para o Streptococcus pneumoniae, bactéria muito associada a pneumonia, otites e sinusites, mas que frequentemente é causa de meningite.

A Neisseria meningitidis, a bactéria causadora da famosa meningite meningocócica, que costuma ser a forma mais grave de meningite bacteriana, apresenta uma particularidade. Esta bactéria possui 13 sorogrupos diferentes. 8 destes sorogrupos são responsáveis por quase todas as epidemias de meningite meningocócica: A, B, C, X, Y, Z, W135 e L, sendo B e C os mais comuns.

Atualmente existe vacina individual apenas contra o meningococo C e uma vacina conjugada que atua contra os meningococos A, C, Y e W135.

Ainda não há vacina contra o meningococo B disponível mundialmente. Esta vacina atualmente só encontra-se disponível em larga escala em Cuba, país que a desenvolveu.

Sequelas da meningite

Os pacientes que se recuperam da meningite podem ficar com sequelas como AVC com paralisias motoras, surdez, diminuição da capacidade intelectual e epilepsias.

A meningite viral, em geral, não deixa sequelas.

Autor do artigo
Dr. Pedro Pinheiro - Médico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2002. Diploma reconhecido pela Universidade do Porto, Portugal. Título de especialista em Medicina Interna pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) em 2005. Título de Nefrologista pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) em 2007. Título de Nefrologista pelo Colégio Português de Nefrologia.

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