domingo, 2 de outubro de 2011

Brasil precisa de vacina própria para prevenir HPV, diz geneticista

Vacina importada não imuniza contra alguns tipo de vírus que existem aqui.
HPV pode causar câncer no colo do útero.

Tadeu Meniconi Do G1, em Águas de Lindoia (SP)
Produzir a vacina contra o HPV (vírus do papiloma humano, na sigla em inglês) no Brasil não é importante só pela redução de custos ou pela questão estratégica do domínio da tecnologia. Segundo o geneticista Willy Beçak, pesquisador do Instituto Butantan, as vacinas importadas têm efeitos limitados nos pacientes brasileiros.
O HPV tem vários subtipos, e alguns deles podem provocar tumores. O vírus é sexualmente transmissível, e o câncer mais associado a ele é o de colo de útero. Também há registro de câncer no pênis, ânus e garganta gerados pelo vírus.
A principal vacina disponível hoje protege contra dois tipos de HPV: o 16 e o 18. “Isso é válido para os Estados Unidos, onde foi desenvolvido, e é válido para outros lugares como o Sudeste do Brasil. Mas quando você faz esse levantamento em outros lugares, como, por exemplo, Pernambuco, o tipo prevalente é o 16, mas depois vêm outros, o 33 e o 31. Então a vacina não protege contra esses tipos”, alertou o geneticista.
“Até a vacinação da população lá seria prejudicial”, prosseguiu Beçak. “Se você vacinar, protege contra o 16 e aumenta a probabilidade de o 31 se espalhar”, completou o pesquisador, que também afirmou que uma vacina ineficaz dá uma falsa sensação de segurança, o que também é prejudicial.
Além disso, a dose da vacina importada custa cerca de 400 reais, e são necessárias três doses para que ela funcione. O alto custo é mais um incentivo para que o Brasil chegue à fórmula com tecnologia própria, feita em instituições públicas.

O geneticista Willy Beçak diz que o Brasil precisa desenvolver uma vacina própria contra o HPV (Foto: Tadeu Meniconi / G1)
Tendo isso em vista, o pesquisador e sua equipe do Instituto Butantan estão desenvolvendo a vacina nacional. A ideia é usar um componente na sequência de DNA que existe em todas as variantes do vírus, o que tornaria a vacina eficaz contra todos os subtipos, resolvendo o problema detectado em Pernambuco.
Beçak estima que o medicamento possa ficar disponível em cerca de oito anos. A espera parece longa, mas é justificada pelas exigências da Organização Mundial da Saúde. Antes de ser lançada, uma vacina precisa passar por uma bateria de testes que comprovem sua eficácia e sua segurança.

Gado de teste
Os mesmos pesquisadores já estão testando uma vacina contra o BPV, a versão bovina do vírus. Como as exigências para a vacinação animal não são tão restritivas quanto na imunização de humanos, os bois podem servir como cobaias para que a vacina contra o HPV fique pronta mais rápido.
Mas Beçak ressalta que esse não é o ponto mais importante. “A vacina tem, primeiro, interesse econômico para o País, porque vai melhorar o desempenho do gado”, disse o pesquisador, lembrando que o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo.
O BPV afeta o gado bovino em vários aspectos. O couro se torna inutilizável, porque a pele do boi fica cheia de verrugas. A produção de leite cai, o corpo do animal se desenvolve menos e acontece queda na taxa de fertilidade. Há ainda casos de tumores na bexiga e no aparelho digestivo.
Entre os animais, o vírus se transmite não só pelo sexo, mas também pelo sangue, o que pode ocorrer inclusive durante a vacinação contra a febre aftosa, quando as seringas são compartilhadas.

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